Estamos em 2022, mas de alguma forma esse projeto nasceu em abril de 2016. Uma pessoa que, na época, eu considerava um grande amigo, abusou sexualmente de mim enquanto eu estava bêbada. E ao contrário do que muitas pessoas pensam sobre a violência contra a mulher, eu não estava andando de noite sozinha em um beco escuro com roupas curtas. Infelizmente a grande maioria dos abusos acontecem por pessoas próximas, e esse foi o meu caso.

Foram quase três anos lutando contra um trauma que me trouxeram um ano de silêncio sem coragem de contar a ninguém, uma compulsão alimentar, a perda de quase todo o meu círculo de amigos próximos (porque a grande maioria defendeu o agressor após eu acabar com o silêncio) e dois anos de terapia semanal para poder lidar com o que passou. 

Para mim, como artista e organizadora, é uma imensa alegria tirar este projeto do papel. Acredito que o mais interessante foi ler as 100 respostas e de alguma maneira sentir que fiz algo que pode ajudar não só as 100 mulheres participantes do projeto, como também todas as que irão ler o livro e se identificarem.

Nas páginas deste livro, existem histórias de mulheres que são sobreviventes de abusos psicológicos, físicos, patrimoniais, sexuais, estupros, tentativas de assassinato e suicídio. Mas nada disso impediu que elas continuassem lutando pela sua vida e superando as dificuldades e traumas que desencadeiam momentos como esse. No final, acredito que essa é a mensagem que esse projeto pode passar a cada uma das leitoras desse livro: somos muito mais do que violência que cometeram contra nós. Somos muito mais fortes que isso.